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Tecnologia garante evolu??o da medicina, mas exp?e desigualdades no atendimento Hospitais Valor Econ?mico.txt
Retrato fiel do ??odamedicinamasexp?edesigualdadesnoatendimentoHospitaisValorEcon?quina de ontem sorteioquadro brasileiro de desigualdades, a presta??o dos servi?os de saúde no país é feita por hospitais de excelência nos grandes centros, que est?o entre os melhores do Hemisfério Sul, ou em postos de atendimento com enormes carências de médicos e equipamentos no interior das regi?es menos desenvolvidas. Se n?o é uma situa??o nova, trata-se agora de uma realidade ainda mais desafiadora pelas tendências que vêm ganhando for?a nos últimos anos. Por um lado, novos medicamentos e diagnósticos cada vez mais precisos, apoiados por exames de imagem, est?o aumentando a expectativa de vida mundial. Por outro, esse envelhecimento da popula??o eleva a incidência de doen?as cr?nicas e o número de consultas e interna??es, superlotando os hospitais e inflando os pre?os dos planos de saúde. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Embora muito bem-vinda, a evolu??o tecnológica sempre foi um fator de encarecimento dos custos hospitalares, até por estimular a realiza??o de exames nem sempre necessários, nota o radiologista Giovanni Guido Cerri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de S?o Paulo (USP). “Hoje, a tecnologia também está viabilizando procedimentos médicos a distancia, o que resulta em grande economia de tempo e dinheiro, além da dissemina??o da boa medicina. Quando o país tiver acesso total à internet móvel 5G será possível realizar cirurgias complexas com a participa??o de um médico especialista em S?o Paulo, orientando um colega no interior da Amaz?nia”, afirma Cerri, também presidente do InovaHC, o bra?o de inova??o do Hospital das Clínicas de S?o Paulo. A institui??o realiza por ano mais de 50 mil cirurgias e 230 mil atendimentos de urgência. Leia mais: Recupera??o em casa reduz custos e libera leitosCentros de excelência refor?am estruturas de pesquisa e inova??o Tecnologia facilita discuss?o de casos difíceis"Internet das coisas médicas" atrai os cibercriminosos A corrida tecnológica no setor de saúde está mesmo em ritmo acelerado, aponta estudo da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, que acaba de ser divulgado. De acordo com o documento, até o fim desta década o atendimento digital será t?o corriqueiro quanto as compras online de hoje. Médicos conduzir?o ensaios clínicos com pacientes remotos, e a inteligência artificial permitirá tratamentos hiperpersonalizados. “O hospital do futuro será uma rede de ativos de entrega física e virtual conectada por um único sistema e recursos digitais, que permitirá o atendimento em comunidades, em casa ou em empresas, de acordo com a necessidade dos médicos e a preferência dos pacientes”, prevê Bruno Porto, sócio da consultoria. Enquanto o sistema 5G n?o chega a todos os rinc?es do país para viabilizar esse futuro, o país segue avan?ando na implanta??o da telemedicina - que requer uma tecnologia mais simples - desde que se viu obrigado a isso na pandemia de covid-19, encerrando um interminável debate sobre a validade das consultas remotas. Gra?as à telemedicina, um projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), iniciado em 2018, conectou 200 ambulatórios da regi?o Norte a médicos de sete especialidades do Hospital Israelista Albert Einstein, de S?o Paulo, um dos mais avan?ados do Brasil. “Só no ano passado foram feitos 60 mil atendimentos”, informa o presidente do Einstein, Sidney Klajner. Em 2023, esse projeto vitorioso está sendo expandido para cem ambulatórios do Centro-Oeste. Pioneiro em várias iniciativas tecnológicas, o Einstein acaba de incorporar o bra?o robótico Hugo, a última palavra entre equipamentos que realizam incis?es e dissec??es cirúrgicas de forma mais precisa - e menos invasiva - do que s?o capazes m?os humanas. “Rob?s comandando cirurgias n?o s?o novidade no Brasil há 15 anos, mas esta é a primeira vez que um procedimento p?de ser transmitido em 3D num tel?o para toda a equipe”, diz Klajner. Comandado pelo urologista Ariê Carneiro, o Hugo removeu com sucesso a próstata de um paciente no dia 9 de maio. Na outra ponta do sistema de saúde brasileiro, porém, ainda há bem menos espa?o para a tecnologia e muito mais para o desafio cotidiano de encontrar meios de atender tanta gente que depende da assistência médica universal e gratuita garantida pela Constitui??o de 1988. Juntos, os 4,4 mil hospitais privados e os 2,6 mil filantrópicos do Brasil oferecem cerca de 458 mil leitos à popula??o - o que representa uma disponibilidade de 2,1 leitos por mil habitantes, índice bem inferior à propor??o de 3,2 por mil indicado pela Organiza??o Mundial da Saúde (OMS). Apesar de suas deficiências, o Sistema único de Saúde (SUS) brasileiro segue sendo uma referência de política assistencial para o mundo todo, até porque nenhum outro país com mais de 100 milh?es de habitantes encara o desafio de dar atendimento médico de gra?a a quem entrar na fila de seus ambulatórios e hospitais públicos ou credenciados. Com um compromisso t?o ambicioso, o SUS absorve a maior parte do or?amento federal destinado à Saúde - que este ano é de R$ 188,3 bilh?es, o maior de todos os ministérios -, o que n?o quer dizer que se trata de uma verba suficiente para tantas necessidades. Há anos que o SUS n?o consegue, por exemplo, remunerar devidamente os procedimentos feitos pelas Santas Casas e demais hospitais filantrópicos, que cumprem um papel fundamental no atendimento aos 75% de brasileiros que n?o possuem plano de medicina privado - em cerca de 900 municípios esses hospitais de caridade s?o a única op??o de atendimento médico. Segundo estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado em novembro de 2022, pelo menos 84% dos procedimentos realizados pela rede filantrópica para o SUS n?o tiveram nenhum reajuste nos últimos dez anos. A Confedera??o das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) têm uma conta mais detalhada desse desequilíbrio: desde o início do Plano Real, em 1994, a tabela do SUS sofreu um reajuste médio de apenas 93,77%, enquanto o índice Nacional de Pre?os ao Consumidor (INPC) subiu 636,07%, o salário mínimo foi corrigido em 1.597,79% e o gás de cozinha aumentou 2.415,94%. “Os reembolsos do SUS cobrem apenas 60% dos nossos custos, o que nos obriga a recorrer a doa??es, empréstimos bancários e emendas de parlamentares para fechar o caixa. Pagamos cerca de R$ 100 milh?es de juros por mês por empréstimos bancários que somam mais de R$ 10 bilh?es. Recentemente, o governo federal repassou R$ 2 bilh?es às nossas entidades, o que aliviou um pouco a situa??o, mas está longe de resolver o nosso déficit”, reclama Mirocles Véras, presidente da CMB. Edson Rogatti, que presidiu a CMB entre 2014 e 2020 e hoje comanda a Federa??o das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de S?o Paulo (Fehosp), conta que o principal papel dos dirigentes de institui??es filantrópicas é justamente encontrar o caminho do dinheiro para mantê-las funcionando. “é preciso frequentar os sal?es de Brasília e se aproximar de deputados, senadores e servidores do governo, de todos os escal?es, para conseguir verbas e renegociar dívidas. Enquanto n?o tivermos um projeto de lei que garanta uma remunera??o justa para os nossos hospitais, de uma vez por todas, essa é a nossa miss?o”, afirma Rogatti. O dirigente da Fehosp conhece bem essa dinamica, porque foi convencendo congressistas a destinar parte de suas verbas para a Santa Casa de Palmital (SP), da qual era provedor, que chamou a aten??o de seus colegas e acabou convidado a assumir uma diretoria da federa??o, duas décadas atrás. “Os deputados percebiam o meu esfor?o e passavam a me dar mais aten??o. O pouco que eles reservavam para o hospital da minha cidade, de pouco mais de 20 mil habitantes, era o bastante”, conta.