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Seguradoras amargam perdas no campo Seguros Valor Econ?mico.txt
Joaquim Neto,resultado da roleta da FenSeg: partir para outras regi?es e ampliar o mutualismo — Foto: Divulga??o Os eventos climáticos extremos nas lavouras, com chuvas torrenciais e períodos de longa estiagem, fizeram o gasto com o sinistro do seguro rural disparar e trouxeram tormentas no balan?o de pagamento do setor no Brasil. Nos dois últimos anos, as seguradoras amargaram um rombo de R$ 3,1 bilh?es. Foram R$ 11,1 bilh?es arrecadados com o prêmio e R$ 14,2 bilh?es gastos com indeniza??es aos agricultores entre 2021 e 2022, segundo dados Confedera??o Nacional das Seguradoras (CNseg) e da Federa??o Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Em 2021, foram R$ 4,8 bilh?es em apólices do seguro rural e R$ 5,4 bilh?es pagos em indeniza??es. Em 2022, R$ 6,3 bilh?es de receita e R$ 8,8 bilh?es em sinistros. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Com os resultados, o sinal amarelo foi aceso e empresas deixaram de operar com o produto, no momento em que o mercado brasileiro come?ava a se consolidar. Ao menos três seguradoras - Excelsior, Ezze e Tokio Marine - suspenderam essas opera??es. Leia mais: Tecnologia ajuda a prever cenários mais complexosDesdobramentos das guerras em curso acendem sinal de alertaCresce o número de seguradoras que consideram ESG para selecionar clientesIA apoio corretores, aprimora processos e detecta fraudes De acordo com representantes do setor, a crise é causada pela confluência entre três fatores: a série de eventos climáticos extremos em regi?es cujos agricultores mais contratam o seguro rural, a falta de incentivo para pulverizar o risco das companhias e a desconex?o entre os elos dessa cadeia. Com isso, o mercado de resseguros, que garante as opera??es das seguradoras, também se retraiu. “Por conta das perdas decorrentes dos eventos climáticos, os resseguradores tiveram menor vontade para conceder capacidade ao mercado. Já as seguradoras reduziram sua atua??o, algumas n?o est?o operando momentaneamente e outras aguardam melhores condi??es de resseguro para entrar neste mercado”, diz Joaquim Francisco Rodrigues Cesar Neto, presidente da Comiss?o de Seguro Rural da FenSeg. Neto atribui o prejuízo financeiro à concentra??o de eventos climáticos em áreas que mais contratam o produto, como Paraná e Rio Grande do Sul, entre maio de 2021 e mar?o de 2022. No período, geadas, chuvas generalizadas de granizo e até uma estiagem severa em novembro e dezembro de 2021 atingiram grandes lavouras, como milho e soja, e menores, como de frutas, hortali?as e café. “As indeniza??es avan?aram até o primeiro semestre de 2022 e os resultados daquele ano s?o negativos por causa dessa sequência de eventos.” Na parcial do primeiro semestre de 2023, antes do plantio da safra de ver?o e dos efeitos das recentes chuvas intensas causadas pelo El Ni?o na regi?o Sul, o balan?o é positivo em R$ 940 milh?es. Na soma de 18 anos de opera??es com seguro rural, o setor também opera no azul, com R$ 264 bilh?es recebidos com o prêmio pago pelos produtores e R$ 101 bilh?es empenhados para cobrir as perdas nas lavouras. Para o representante das seguradoras, diante das dificuldades de se alinhar quest?es meteorológicas ao cenário cada vez mais imprevisível de mudan?as climáticas, é importante buscar a dispers?o de risco. “é fundamental partir para outras regi?es e ampliar o mutualismo, quando muitos contratam e poucos utilizam, para equilibrar a conta, manter as seguradoras na atividade e n?o ter a necessidade de aumentar a taxa de precifica??o de risco”, explica Neto. Buscar novos mercados e oferecer produtos diversos, como seguros para armazenagem e logística, e assim, mitigar os riscos, deve ser a saída para as operadoras, na avalia??o do governo federal. “A carteira do agro só trabalha com risco climático e o mercado se concentra onde tem maior interesse do mercado. No Centro-Oeste, principal mercado produtor do país, o agricultor nem quer ouvir falar de seguro rural”, afirma o diretor do departamento de gest?o de riscos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, J?natas Pulquério. “é fun??o do governo incentivar que novos produtos sejam apresentados, pulverizar o mercado, pois sem esse mutualismo a carteira é insustentável.” No Centro-Oeste, principal mercado produtor do país, o agricultor nem quer ouvir falar de seguro rural” — J?natas Pulquério Uma das op??es para reduzir o risco e baratear os custos aos agricultores, o seguro paramétrico é comum nos Estados Unidos. O modelo n?o garante prote??o integral para toda produ??o, mas especificamente para perdas causadas por varia??es de determinados parametros de risco, como chuvas acima ou abaixo do normal em períodos específicos. No entanto, de acordo com Miguel Ivan Lacerda, ex-diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e pesquisador da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), esse modelo dificilmente funcionaria no país. “Existe uma desintegra??o de planejamento entre os institutos de meteorologia e entre essa área e a do seguro rural no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, o NOAA (departamento federal responsável pela área climática) é integrado com as seguradoras e recebe para fornecer informa??es que baseiam o seguro paramétrico. Além disso, o seguro rural é obrigatório naquele país, o que dificilmente aconteceria no Brasil se a proposta fosse ao Congresso”, diz Lacerda. Na esteira da crise econ?mica causada pela disparada no pagamento dos sinistros, um antigo gargalo no setor é a falta de recursos públicos para subven??o ao prêmio pago pelos produtores na contrata??o do seguro rural. Pelo modelo vigente no país, o governo federal paga parte do valor dos prêmios, prática também adotada por governos estaduais, como S?o Paulo e Paraná. Mas os recursos s?o insuficientes ou alvo de contingenciamento or?amentário para o cumprimento de metas fiscais. Para Guilherme Rios, representante da Comiss?o Nacional de Política Agrícola da Confedera??o da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o seguro rural tem de ser visto como investimento pelo governo federal. Cortes no or?amento do programa, segundo ele, significam gastos públicos no futuro para renegocia??o de dívidas de produtores que perderam a produ??o por problemas climáticos. Enquanto o governo federal destina em torno de R$ 1 bilh?o por ano para subvencionar o prêmio do seguro rural, o setor pedia o dobro para este ano e ainda cobra suplementa??es e espera o triplo, ou seja, R$ 3 bilh?es no or?amento de 2024.