Em seguran?a alimentar, o Brasil n?o fez toda a li??o de casa Revista Agronegócio Valor Econ?mico.txt
Terceiro setor turbina desenvolvimento de negócios de impacto G20 no Brasil Valor Econ?mico.txt
DJ Bola: “A música e a cultura hip-hop proporcionaram que eu pudesse olhar além da realidade dura” — Foto: Divulga??o Lincoln Amorim é cofundador da Monomito Filmes,óciosdeimpactoGnoBrasilValorEcon?quina teste 4553 produtora audiovisual sediada no Itaim Paulista, extremo da zona leste de S?o Paulo. A empresa tem na carteira clientes do peso de Ifood, Google e Amazon. Parte do lucro do negócio é utilizado para produzir vídeos, gratuitos ou a custo social, de clientes bem menos abastados: artistas da periferia paulistana, como rappers, poetas e grafiteiros. Em 2023, foram 130 deles, com 85 horas de filme. Do outro lado da capital paulista, na zona sul, Marcelo Rocha, conhecido como DJ Bola, comanda A Banca - negócio que nasceu a partir de um movimento de jovens que organizava eventos de hip-hop no Jardim ?ngela nos anos 1990. Naquela época, a ONU apontava o bairro como o distrito mais violento do mundo. “A música e a cultura hip-hop proporcionaram que eu pudesse olhar para além da realidade dura”, conta ele. Hoje, o negócio atua em diversas frentes: grava??o e distribui??o de músicas de artistas, acelera??o e financiamento de negócios na área da economia criativa e programas de educa??o. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Em comum, a dupla contou com um empurr?o de organiza??es do terceiro setor. Ambos passaram por programas da aceleradora e financiadora de negócios de impacto Artemisia. Bola também faz parte da Ashoka, rede global de empreendedores sociais que promove troca de experiências e apoio entre os participantes e, conforme o caso, auxílio financeiro. “Trabalhamos com iniciativas com potencial para transformar políticas públicas, práticas de mercado e normas sociais”, diz Rafael Murta Reis, diretor da organiza??o. O respaldo ganha importancia diante da falta de fontes de ajuda, sobretudo para os empreendedores sociais da periferia. Segundo pesquisa com foco em negócios de impacto, realizada pelo Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Funda??o Getulio Vargas (FGVcenn), nenhum dos 101 empreendedores sociais ouvidos concorda que existe apoio do Estado e de governos para suas iniciativas. Apenas 1% acha que pode contar com bancos e outros investidores - dos que responderam “sim”, nenhum é da periferia. E só 5% (nenhum de periferia) concordam que a comunidade empresarial os apoia. “Na periferia existem mais dificuldades tanto em rela??o ao capital financeiro, com menos possibilidade de acesso a crédito e a outros recursos, como em rela??o ao capital humano, com mais gente sem acesso à educa??o básica. Há também limita??es quanto ao capital social, com menor acesso a parcerias para o negócio”, diz o pesquisador responsável pelo estudo, Edgard Barki, do FGVcenn. O levantamento, divulgado em 2021, também revela que fora da periferia, o capital inicial dos negócios de impacto de fora da periferia (R$ 712,5 mi) era 37 vezes maior do que os da periferia (19,1 mil) - despropor??o que, segundo Barki, continua. Com maior f?lego financeiro desde o início, os negócios de fora da periferia têm receita anual em média 21 vezes maior, com média de R$ 3 milh?es, e atendem 19 vezes mais clientes. Ainda assim, os negócios da periferia operaram no azul, com lucro médio anual de R$ 13,7 mil, enquanto os de fora registraram prejuízo médio de R$ 286,8 mil reais. Na opini?o de Barki, os números apontam dois fatos: a dificuldade em equilibrar impacto social e sustentabilidade financeira; e o fato de empreendedores da periferia n?o poderem correr tanto risco de prejuízo. Amorim concorda: “A gente n?o tem como errar porque só tem uma chance”. Chance que ele agarrou quando injetou, em 2017, os R$ 10 mil da rescis?o do emprego como gestor de seguran?a da informa??o na compra de equipamentos para come?ar, com amigos, um coletivo para produ??o audiovisual com foco em artistas periféricos. Foi difícil sustentar o modelo. “Tinha vezes que eu saia daqui da zona leste para ir para Grajaú, na zona sul, para captar uma poesia por R$ 10 ou R$ 15”. Na pandemia as coisas pioraram. “Os artistas iam cancelando e percebemos que iríamos fechar”, conta. A guinada rumo à sustentabilidade financeira come?ou quando conheceu, por sugest?o da atual sócia, a Anip (Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia), pilotada por Bola e na época gerida em parceria com a Artemisia e FGV. Ele conta que foi a contragosto para o primeiro encontro, de apresenta??o do programa, numa sala da FGV. “Para mim aquele prédio higiênico ao lado da Avenida Paulista representava o boy branco, uma elite burguesa com quem eu n?o queria trocar ideia”, diz. Mas, entre os presentes, ele avistou Bola, com cabelo tran?ado e com camiseta dos Racionais MC 's. “O visual parecido com o meu foi um facilitador”, conta. Também gostou do que ouviu. “O Bola pegou o microfone e come?ou a explicar porque os negócios da periferia tinham de se comunicar com outras empresas, porque fazia sentido para a gente estar ali.” Com apoio da Anip, Amorim montou o plano de negócio que transformava a origem periférica em vantagem comercial. “A gente entendeu que o que vendíamos, além de audiovisual, era linguagem. E essa linguagem tem muito valor porque as pessoas queriam vender para cá, para essa periferia”, diz. “Eu sei o que o público daqui come, onde ele mora, quanto tempo demora para ir para o trabalho. Conecto as pessoas porque uso uma linguagem que n?o é uma linguagem estranha a mim.” Pelo programa da Anip, ele também conseguiu R$ 21,5 mil para construir o primeiro galp?o da produtora. Atualmente, há outro, de 220 m2, em constru??o para forma??o em audiovisual de jovens da regi?o com o objetivo de futuras contrata??es. Desde a funda??o, cerca de 130 empreendedores passaram pela Anip, tanto para acelera??o de pequenos negócios, que receberam cerca de R$ 750 mil de capital semente de parceiros como Funda??o Arymax, como para forma??o em áreas como marketing, vendas e finan?as, sobretudo com foco na economia criativa. “A ideia era acelerar negócios de impacto periféricos que, normalmente, n?o tinham acesso aos programas convencionais de acelera??o”, diz Priscila Martins, diretora de relacionamento institucional da Artemisia. “Logo que a Anip nasceu, n?o se falava em negócio de impacto social aqui na quebrada. E fora, a pauta existia sem a periferia participar dos processo”, afirma Bola. Atualmente, o dia a dia da Anip é gerido exclusivamente pela A Banca. Para ampliar o alcance dos recursos, ele come?a a mudar o modelo. Desde 2022, o capital semente doado come?a a ser substituído por crédito. “Com o retorno do dinheiro, a gente pode continuar reinvestindo em mais negócios”, justifica Bola. Por enquanto, cinco empresas contraíram empréstimos entre R$ 50 mil e R$ 100 mil, com juros equivalentes a varia??o da Selic, mais 0,68% ao mês. No bra?o da educa??o, a A Banca atua, nas palavras de Bola, nos dois lados da ponte. No Jardim ?ngela oferece cursos como produ??o musical, produ??o cultural e canto. Nas áreas mais ricas da cidade, leva às salas de aula de colégios como Santa Cruz e Equipe temas relacionados à desigualdade social e econ?mica. Um dos objetivos do programa é mostrar a realidade das periferias para quem um dia poderá tomar decis?es com impacto na vida de seus moradores. “S?o jovens privilegiados que, quando assumem o cargo a que est?o destinados, podem fazer diferen?a tanto negativa como positivamente”, diz Bola. “E, se a gente está dialogando com essa molecada que, muitas vezes tem um estereótipo super negativo sobre a gente que vive na quebrada, é porque a gente acredita que o ser humano tem conserto”.