Os 5 melhores uísques para come?ar a investir, segundo um colecionador do destilado.txt
Reduzir lucratividade dos fósseis continua a ser um obstáculo, diz especialista Energias renováveis Valor Econ?mico.txt
Christophers: “Lobby vai focar muito mais na resistência às tentativas de encerrar a economia dos combustíveis fósseis” — Foto: Divulga??o O avan?o das energias renováveis é o caso clássico de como enxergar o copo de água,ósseiscontinuaaserumobstáculodizespecialistaEnergiasrenováveisValorEcon?jogo de calotas se meio cheio ou meio vazio, admite Brett Christophers, professor de geografia humana no Instituto de Habita??o e Pesquisa Urbana da Universidade de Uppsala, na Suécia, onde mora há 16 anos. Para ele, a realidade é que, apesar do entusiasmo com o crescimento inegável do setor, o aumento em nível registrado até agora, revelou-se puramente suplementar, incapaz de substituir a gera??o a partir dos fósseis. Autor do livro “The price is wrong: why capitalism won't save the planet” (“O pre?o está errado: por que o capitalismo n?o vai salvar planeta”), Christophers defende que os custos da energia solar e eólica - que considera as maiores apostas dos mercados para a descarboniza??o - caíram muito, mas nem por isso passaram a oferecer lucratividade que chegue perto dos combustíveis fósseis, que continuam crescendo. Ao Valor, o britanico afirma que o maior desafio da transi??o é justamente em como reduzir a lucratividade dos fósseis, o que governos n?o estariam preparados para fazer. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Valor: No livro, você fala do aumento das renováveis, mas diz que salvar o planeta n?o é um negócio lucrativo. Por que? Brett Christophers: O desenvolvimento de energias renováveis, e falo principalmente da solar e eólica, é um daqueles casos clássicos de como você enxerga o copo, se meio cheio ou meio vazio. Muitos olham para os gráficos das renováveis e acham que o investimento e a quantidade de eletricidade gerada est?o crescendo rapidamente. Outros ver?o de outra maneira: sim, crescem rápido, mas n?o t?o depressa quanto precisamos. Isso fica evidente quando vemos que a gera??o de eletricidade a partir de combustíveis fósseis também está crescendo. é o sinal mais claro de fracasso das energias renováveis. A realidade é que, apesar de as energias renováveis terem crescido e continuarem a crescer cada vez mais depressa, o aumento até agora, em nível global, se revelou puramente suplementar, em vez de substituir a gera??o a partir dos fósseis. Isso é um problema. Valor: Por que as outras renováveis s?o mais caras e complexas? Christophers: A solar e a eólica n?o s?o as únicas fontes viáveis de eletricidade com zero carbono ou mesmo com baixo teor de carbono. A raz?o pela qual me concentro nestas duas é que, no mundo em geral, s?o uma espécie de aposta para ajudar a descarbonizar o setor energético. Há países onde é provável que vejamos em curso investimentos significativos em nuclear e/ou hidroelétrica. Uma pequena parte do futuro crescimento global em eletricidade de baixo carbono virá delas. Mas em termos de substitui??o destes 50% ou 60% da eletricidade global, ainda gerada por combustíveis fósseis, a maioria das pessoas espera que solar e eólica fa?am a maior parte do trabalho. Valor: Pelo que temos visto n?o est?o fazendo. Christophers: O desenvolvimento n?o está avan?ando rápido o suficiente. Há raz?es econ?micas importantes às quais n?o foi dada a devida aten??o. Há uma espécie de narrativa de que a economia n?o é mais problema. O custo de gera??o de eletricidade a partir da energia solar e eólica teria caído tanto que presume-se n?o haver mais obstáculos econ?micos. O que estou dizendo é: ‘peraí, isso n?o é verdade!’. O custo caiu muito, mas a economia n?o foi resolvida. Grande parte do livro tenta explicar isso. Valor: Por que n?o? Christophers: No estado atual das coisas, ser um produtor de petróleo ou gás é geralmente muito mais lucrativo do que uma empresa que desenvolve, possui e opera parques solares ou eólicos. Um dos meus argumentos está na concorrência. Para petróleo e gás, há uma situa??o relativa de oligopólio, onde estruturas institucionais, sendo a OPEP a mais importante, existem em boa medida para controlar os pre?os e garantir que permane?am suficientemente estáveis e elevados para manter a rentabilidade do produtor. Embora haja tanto investimento em solar e eólica, há muitos novos aportes em fósseis” Valor: Do lado da gera??o de eletricidade renovável, por sua vez, n?o há nada parecido. Christophers: N?o há nenhum tipo de poder de mercado para os geradores de energia renovável e, por isso, é muito difícil garantir níveis sustentáveis de rentabilidade acima da média. A rentabilidade acima da média, ainda que exista, desaparece rapidamente pela concorrência. N?o há mecanismos institucionais disponíveis para atingir níveis elevados de rentabilidade durante um período de tempo significativo. é um setor incrivelmente competitivo e existem muito poucas barreiras à entrada no setor da eletricidade renovável. Por isso a rentabilidade tende a ser relativamente baixa. Valor: Você diz no livro que a maior parte do crescimento das renováveis está concentrado na China. Como isso afeta o cenário? Christophers: Ao olhar para a história das energias renováveis há um argumento muito enganador, porque grande parte do crescimento recente ocorreu na China. Se você tirá-la das estatísticas, os números para o resto do mundo n?o s?o particularmente impressionantes. Se retirarmos a Europa, parecem ainda piores. Mesmo no caso chinês, embora haja tanto investimento em solar e eólica, ainda há muitos novos aportes em infraestrutura de combustíveis fósseis, porque a procura total por eletricidade aumenta t?o depressa que n?o dá para satisfazer o aumento da demanda. Valor: Governos e foros como o G20 e as COP defendem que o setor privado é fundamental para fechar a conta. Concorda? Christophers: A forma básica como o mundo, a maioria dos governos, está abordando o desenvolvimento solar e eólico é atribuindo a maior parte da responsabilidade ao setor privado. A China é a exce??o óbvia porque a maior parte do investimento chinês se dá por empresas estatais. Nos outros lugares, os governos dizem: ‘olha, esperamos que o setor privado fa?a isso’. ‘Nós, o setor público n?o vamos construir, deter e operar as infraestruturas das renováveis. Vamos ajudar o setor privado de várias maneiras’. é uma estratégia focada no setor privado. Valor: Como os governo têm ajudado o setor privado na prática? Christophers: Uma das formas através das quais os governos têm tentado ajudar a acelerar o investimento privado é através de vários mecanismos financeiros diferentes, que incluem o financiamento misto, mistura de financiamento privado e essencialmente subsidiado, que pode vir do governo ou de bancos de desenvolvimento, ou de institui??es filantrópicas. A ideia é reduzir o custo do financiamento. Valor: Ainda assim, n?o é fácil. Christophers: Nem sempre funciona. às vezes, ainda que exista financiamento subsidiado disponível para reduzir o custo total do capital, os desenvolvedores n?o v?o, ou n?o podem, levar o projeto adiante, porque as perspectivas de lucratividade parecem remotas. Em muitas partes do mundo, a redu??o do custo do financiamento é suficiente para tornar os projetos financeiramente viáveis. O problema é que n?o há capacidade de financiamento suficiente deste tipo disponível para estimular o desenvolvimento global de renováveis em algo parecido com a escala necessária. E, claro, há partes do mundo onde esse tipo de financiamento subsidiado é mais importante, como no Sul global, em países mais pobres, e é importante compreender por que. As institui??es financeiras privadas percebem que o risco de emprestar dinheiro a projetos nestes países é normalmente mais elevado e, por isso, cobram juros mais altos. Valor: Neste caso, estamos falando em estabilidade econ?mica, política, jurídica. Christophers: Tudo isso pesa no custo. Eles percebem um risco geral maior. Dizem: ‘Ok, se emprestarmos a um novo desenvolvedor de energia renovável na Holanda a 4%, vamos emprestar na Zambia, no Brasil, no Senegal ou no Vietn? a 11%’. Se o custo do financiamento é muito mais elevado, fica muito mais difícil ganhar dinheiro. Transi??o energética é mais um fen?meno político do que econ?mico” Valor: A transi??o energética de que precisamos só é possível com dinheiro público? Christophers: Há todo tipo de quest?es para refletir. E nem estamos mencionando aqui que, juntamente com o enorme investimento em novas infraestruturas de baixo carbono, também precisamos fechar as de combustíveis fósseis, encerrar os campos de petróleo e gás e as minas de carv?o. é possível que o setor privado possa e fa?a ele próprio o trabalho em termos de constru??o de infraestruturas suficientes de energias renováveis num prazo razoável. Mas é altamente improvável. Valor: Por quê? Christophers: Dada a aparência das coisas, a única maneira seria através de subsídios pesados, quer sob a forma de financiamento misto, ou qualquer outra coisa. Estamos falando de enormes subsídios de entidades n?o privadas de todo o mundo para tornar esses investimentos mais atrativos para o setor privado, numa escala maior que a atual. Se a natureza e a escala dos subsídios e apoios permanecerem como hoje, n?o teremos resultado. Valor: Como cumprir as metas de financiamento para conter o aumento da temperatura global? Christophers: Esses s?o números produzidos por entidades como a Agência Internacional de Energia, que periodicamente dir?o: ‘se quisermos ter alguma esperan?a realista de atingir a meta de limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5°C, e isso já passou, ou 2°C, e se o setor energético vai desempenhar o seu papel nisso, precisamos de uma quantidade específica de desenvolvimento de energia renovável até 2050 ou 2035’. Para qualquer um destes números críveis, n?o estamos nem remotamente no caminho para atingi-los. Essa é uma das raz?es pelas quais eu, e certamente n?o apenas eu, acredito que um papel mais significativo para o setor público no desenvolvimento, na deten??o e na opera??o de infraestruturas de energias renováveis é uma forma possível de acelerar as coisas. Valor: Mas isso n?o é t?o simples em alguns países. Christophers: Sim, reconhe?o logo que esse é um caminho muito mais crível politicamente e economicamente para alguns países. Precisa ser um país bastante rico, com situa??o fiscal sólida, para considerar investimentos deste tipo e nesta escala. Ou com uma espécie de amea?a política ou geopolítica. Valor: Na Europa, talvez seja mais fácil convencer a popula??o de que n?o se pode depender do gás da Rússia. Christophers: Tem raz?o. Talvez seja um pouco diferente agora, em 2024, mas em 2022 foi muito mais fácil convencer os eleitores na Alemanha, ou mesmo a Suécia, da necessidade de imensos investimentos públicos em energias renováveis quando os pre?os do gás subiam por causa da guerra na Ucrania. Mais do que em outras partes do mundo. Tudo tem a ver com a possibilidade política e a credibilidade política. E a geopolítica depende diretamente disso. Valor: Há ainda o lobby dos combustíveis fósseis, que é imenso. Christophers: Sim, e a influência desse lobby é sentida desproporcionalmente no lado da energia suja. é muito maior em termos de retardar o desmantelamento das infraestruturas de combustíveis fósseis do que de avan?ar na constru??o de infraestruturas de energia limpa. Esse lobby está muito mais preocupado em impedir o encerramento de campos de petróleo e gás, de minas de carv?o, do que com o desenvolvimento de novos parques eólicos e solares. N?o se importa se construirmos mais desses parques, desde que possa continuar a bombear petróleo e gás, construir e desenvolver novas minas. Só se preocupar?o quando virem neste desenvolvimento amea?a significativa aos seus negócios existentes. E a realidade é que, neste momento, n?o s?o. Há uma boa raz?o para tal. Como disse, o desenvolvimento solar e eólico, até agora, tem sido puramente suplementar e n?o substituto. Enquanto este for o caso, esse lobby vai focar muito mais na resistência às tentativas de encerrar a economia dos combustíveis fósseis. N?o há nenhum tipo de poder de mercado para os geradores de energia renovável” Valor: Como estimular outros tipos de energias renováveis? Christophers: A energia hidrelétrica parece estar bem estabelecida, mas a maioria das oportunidades significativas de fato já foram exploradas. Em termos de fontes mais recentes com baixo ou zero carbono, há algumas relativamente bem estabelecidas e amplamente aceitas que só estar?o disponíveis numa escala geográfica limitada. A geotérmica seria o melhor exemplo. Na Islandia e na Nova Zelandia, existe e vai continuar a existir um mercado geotérmico significativo. Valor: E o hidrogênio? Christophers: O hidrogênio é um exemplo para mostrar que os tipos de problemas s?o muito diferentes. O que quero dizer com isso é que, até onde eu sei, ainda n?o foi provado que o hidrogênio poderá desempenhar um papel significativo na gera??o de eletricidade em escala e em base acessível. Muitos argumentam que o que vimos até agora é uma espécie de bolha em torno do tipo de hidrogênio. Há muito incentivo e muito entusiasmo. Mas ainda n?o está provado como será. Existem diferentes conjuntos de restri??es e acho que a fus?o nuclear entra aí também. Valor: Voltamos ao capitalismo do título do seu livro Christophers: Esses s?o mais caros. Talvez aconte?a com o hidrogênio a queda de pre?os que vimos na solar e eólica. Mesmo assim, n?o é impossível que n?o v?o enfrentar os mesmos tipos de obstáculos que enfrentaram no que diz respeito à rentabilidade. Um dos meus principais argumentos no livro é que o perfil de rentabilidade da energia solar e eólica permanece pouco atraente, apesar de tamanha queda nos custos de produ??o. E, claro, uma das raz?es para isso é concorrência. Seus custos de gera??o caíram muito, mas a lucratividade n?o aumentou necessariamente. Qual é o problema? Para a lucratividade aumentar, você tem que ser capaz de reter, privatizar essas redu??es de custos. Mas, se você estiver em um contexto muito competitivo, o que descobrirá é que essas redu??es de custos s?o competitivas. Valor: Mas a lucratividade do setor n?o chega nem perto dos 15% do setor de petróleo e gás a que se refere no livro. Christophers: A maioria dos estudos sugere que, na opera??o solar e eólica, você está olhando de forma ampla e geral para lucros na faixa de, digamos, 5% a 8% de taxa interna de retorno, enquanto os produtores de petróleo e gás, os maiores produtores mundiais de petróleo e gás, est?o acostumados a gerar retornos maiores que o dobro em uma base consistente, e é exatamente por isso que eles n?o demonstraram quase nenhum interesse em fazer a transi??o do petróleo e do gás para as energias renováveis. Valor: Qual é o maior desafio agora para a transi??o energética? Christophers: Os governos em nível global demonstraram que n?o est?o preparados para fazer o que é necessário para tornar o petróleo e o gás um negócio n?o lucrativo. Há coisas que poderiam fazer claramente que significariam que novos investimentos na produ??o de petróleo e gás n?o ocorreriam numa escala semelhante à que ocorre hoje. Por raz?es variadas, os governos n?o est?o prontos para introduzir impostos significativos sobre carbono ou qualquer outra coisa que fa?am esses retornos caírem dos atuais mais de 15% para 4%, 2%, zero, ou mesmo gerar perdas. Esse é o maior obstáculo da transi??o. Em última análise, a transi??o energética, na medida em que pode e irá acontecer, é mais um fen?meno político do que econ?mico. Valor: Por quê enxerga assim? Christophers: Decis?es políticas moldam fundamentalmente os resultados econ?micos. E a classe política tem demonstrado, particularmente nos últimos cinco anos, que n?o está pronta para tomar as medidas necessárias. Talvez a maior raz?o para n?o tributar o setor da maneira necessária é que, no fim das contas, isso prejudicaria os consumidores. Valor: Isso pesaria na infla??o, que continua sendo preocupa??o mundial nos dias de hoje. Christophers: Temos particularmente no Norte global, mas n?o apenas aqui, estilos de vida intensivos em carbono. Se aumentarmos o pre?o do carbono, causamos infla??o de imediato. De uma forma ou de outra. Os políticos simplesmente n?o est?o preparados para ir até lá.